August 10, 2023

Relatório internacional recomenda ações concretas e urgentes para que a economia responda à crise de clima e natureza com equidade

Documento da Força-Tarefa sobre Mercados de Natureza, com sete recomendações ambiciosas e práticas, é lançado logo após a Cúpula da Amazônia e apresenta propostas em relação à Declaração de Belém, divulgadas pelos presidentes dos Estados Partes da OTCA

Relatório internacional recomenda ações concretas e urgentes para que a economia responda à crise de clima e natureza com equidade
  • A Força-Tarefa sobre Mercados de Natureza lança hoje seu relatório final com sete recomendações visando garantir impactos positivos para clima, natureza e pessoas na economia global;
  • Formuladores de políticas públicas, bancos centrais e reguladores financeiros são provocados a elevar a agenda da bioeconomia nas cúpulas globais, como G20, cuja presidência será exercida pelo Brasil a partir de dezembro, e COP30, que terá Belém como sede em 2025;
  • Uma das prioridades apontadas no relatório é realinhar a economia global para valorizar produtos e serviços da natureza e incluir povos indígenas e comunidades locais como protagonistas nas tomadas de decisão. Este também foi um dos pontos acordados na Declaração Presidencial da Cúpula da Amazônia (item 55);
  • Porém, enquanto a Declaração Presidencial (item 61) reconhece a importância do enfrentamento de atividades ilegais e crimes contra a natureza, o relatório da Força-Tarefa vai além e demanda proatividade de atores do setor financeiro para não investirem, mesmo que involuntariamente, nos mercados ilegais; 
  • Mercados de commodities agrícolas são o principal alvo para uma governança mais robusta e eficaz.

10 de agosto de 2023, Belém (PA) - Um inédito e histórico manifesto, lançado por um grupo global de lideranças políticas, indígenas, empresariais e financeiras, propõe o redesenho dos mercados globais para garantir que tenham impacto positivo no clima e na natureza, assim como na redução da desigualdade.

O documento Colocando os mercados de natureza para funcionar: como moldar uma economia global da natureza no século 21 lançado hoje, em Belém (PA), pela Força-Tarefa sobre Mercados de Natureza durante o evento “Inovação, Finanças & Natureza” detalha como a mudança sem precedentes em direção à precificação da natureza na economia pode tornar os mercados mais eficientes para as pessoas e o planeta, desde que se consolide a partir de boas práticas de governança a fim de evitar iniciativas enganosas de "greenwashing” ou que ampliem as desigualdades e destruam ainda mais a natureza.

Reforçando o papel de protagonista que o Brasil exercerá no G20, Marcelo Furtado, diretor da NatureFinance e co-líder do secretariado da Força-Tarefa, destaca a importância do país nestas discussões. “Alterações que são urgentemente necessárias nas políticas e regulamentações financeiras e monetárias, bem como nas regras de comércio e investimento, poderiam ser promovidas pelo Brasil como uma importante economia de natureza durante a sua presidência do G20, em 2024, e ao ser sede da COP30, em 2025.”

As recomendações incluem, por exemplo, avançar na rastreabilidade nos mercados globais de commodities alimentares – exigindo que os negociantes levem em conta a natureza e o clima – e garantir que os mercados de carbono e de créditos de biodiversidade ofereçam preços justos aos países ricos em recursos naturais, aos povos indígenas e a comunidades locais, aprofundando com ações específicas elementos mencionados no item 71 da Declaração Presidencial da Cúpula da Amazônia.

Também tratam da necessidade de tornar obrigatórias as cadeias de valor livres de crimes contra a natureza, como garimpo e pesca ilegal. Até agora, além da alarmante perda de ecossistemas biodiversos, a governança inadequada para interromper o tratamento da natureza como um recurso ilimitado e gratuito pela economia acelerou a crise climática, intensificou as desigualdades e minou tanto a estabilidade financeira quanto a segurança alimentar.

As recomendações reconhecem que qualquer solução para a crise da natureza, seja política ou baseada no mercado, não terá sucesso sem envolver os guardiões das florestas e sua biodiversidade na formulação e execução de soluções eficazes, em particular os povos indígenas e comunidades tradicionais. De acordo com a organização WWF, cerca de 80% da biodiversidade mundial encontra-se em Terras Indígenas e comunidades locais.

"É fundamental que os povos indígenas estejam no comando do design e da governança dos mercados de natureza. Sem a natureza, não há vida em nosso planeta nem uma economia sustentável", diz Almir Narayamoga Suruí, cacique-geral do povo Paiter Suruí e membro da Força-Tarefa.

Para Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com o Mercado, do Banco Safra, e integrante da Força-Tarefa, “há espaço para os mercados transformarem a maneira como recompensamos a contribuição da natureza para a economia e os guardiões da natureza, incluindo maneiras de limpar as cadeias de valor, envolvendo consumidores e garantindo maior divulgação de produtores, traders e investidores”.

  O manifesto argumenta que a bioeconomia depende de incentivos políticos, de regulamentação e novos desenhos de governança em níveis local, regional e internacional.

“Os mercados de natureza são uma ponte para uma mudança total em nosso sistema econômico", afirma Sandrine Dixson, presidente do Grupo de Impactos Econômicos e Sociais da Comissão Europeia e membro da Força-Tarefa sobre Mercados de Natureza. Segundo ela, uma verdadeira transição requer “não apenas financiar a mudança por meio de soluções de baixo carbono e baseadas na natureza, mas também inovações nos sistemas financeiros e econômicos para realmente atender simultaneamente às pessoas, ao planeta e à prosperidade”.

Construção coletiva – As sete recomendações da Força-Tarefa são baseadas nas melhores práticas e, embora muitas delas já estejam em andamento, o relatório propõe que sejam aceleradas e ganhem escala buscando catalisar mudanças globais com urgência e determinação. São elas:


  1. Alinhar a arquitetura econômica e financeira a uma economia global de natureza que seja equitativa: alinhar políticas e regulamentações financeiras e monetárias, bem como regras de comércio e investimento, com a necessidade de avançar para uma economia global de natureza que seja equitativa.

  1. Alinhamento de políticas de bancos centrais e instituições reguladoras: ação para ampliar os mandatos dos bancos centrais e instituições reguladoras para exigir que eles assegurem um alinhamento entre as ações dos atores financeiros, mercados e sistemas com os compromissos do governo e da política internacional para as agendas de natureza e clima.

  1. Alinhar as finanças públicas com as necessidades de uma economia global e equitativa da natureza: ação para alinhar a gestão financeira do setor público aos compromissos ambientais internacionais fixados pelo Marco Global de Kunming-Montreal para a Biodiversidade.


  1. Responsabilizar legalmente os mercados de commodities alimentares em relação às pessoas e ao planeta: promover o comércio global de alimentos – maior e mais impactante mercado de natureza do mundo – cobrando ações para maior responsabilidade dos mercados de commodities agrícolas frente as pessoas e o planeta.

  1. Garantir melhores benefícios econômicos para os guardiões da natureza: ação para formar um ou mais "clubes de vendedores" de natureza, compreendendo tanto nações soberanas ricas em natureza quanto grupos indígenas e comunidades locais, promovendo mercados de natureza de alta integridade com preços acordados ou, se necessário, impostos.

  1. Endereçar os impactos perversos dos crimes contra a natureza: ação para reduzir a frequência e o impacto dos crimes contra a natureza, estabelecendo uma exigência para que investidores e financiadores demonstrem que as cadeias de valor de seus financiamentos são livres de crimes contra a natureza.

  1. Medidas convergentes sobre o estado da natureza: ação para estabelecer uma abordagem comum para medir e tornar publicamente disponível o estado da natureza em qualquer lugar do planeta.

A janela para mudar a economia e afastá-la do uso insustentável da natureza está se fechando. Embora exija mudanças radicais na forma como empresas, mercados e economias funcionam, as recomendações da Força-Tarefa podem proporcionar mercados mais equitativos e positivos, apoiando a transição para uma economia sustentável.

“Mesmo confrontados com interesses estratégicos divergentes, todos os países precisam se comprometer com uma economia global mais equitativa e positiva para a natureza, incluindo políticas comerciais e de investimento reformuladas, regulamentos, padrões e regras que regem as compras públicas e os subsídios”, avalia Simon Zadek, diretor executivo da NatureFinance e co-líder do secretariado da Força-Tarefa sobre Mercados de Natureza.

Notas

Acesse o documento na íntegra aqui.

Saiba mais sobre as recomendações aqui.


Sobre a Força-Tarefa sobre Mercados de Natureza

Foi criada em abril de 2022 com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de uma nova geração de mercados de natureza significativos, que produzam resultados positivos e equitativos para a natureza e, ao fazê-lo, contribuam para atingir as metas climáticas. É uma iniciativa da Nature Finance, que também abriga o seu secretariado.


Integrantes da Força-Tarefa para Mercados de Natureza
Sandrine Dixson-Declève; Katrina Donaghy; Rebeca Grynspan; André Hoffmann; Naoko Ishii; Sylvie Lemmet; Joaquim Levy; Carlos Lopes; Bruno Oberle; Henry M. Paulson Jr.; Carlos Manuel Rodriguez; Nakul Saran; Vian Sharif; Almir Suruí; Rhian-Mari Thomas.

Sobre a NatureFinance

É uma organização internacional sem fins lucrativos, sediada em Genebra, dedicada a alinhar as finanças globais com resultados equitativos, positivos para a natureza e resilientes ao clima. Seu trabalho abrange iniciativas que estão construindo e utilizando dados de biodiversidade para uma melhor gestão de riscos relacionados à natureza, bem como desenvolvendo mercados de natureza com propósito, avançando inovações financeiras, inclusive em mercados de dívida soberana, e fortalecendo passivos relacionados à natureza.

Contato para a imprensa

Luciana Constantino - lucianamconstantino@gmail.com